Acidentes de trabalho ocorridos desde o início do ano nas três minas em actividade em Portugal - Panasqueira, Aljustrel e Neves Corvo - cifram-se nos 134. Há duas vítimas mortais.
A poucos dias do resgate dos 33 mineiros, no Chile, o JN foi tentar perceber como se comportariam os mineiros portugueses perante cenário idêntico. Garantiram-nos que a hipótese é remota à luz da lei nacional, mas há muitas histórias de acidentes para contar...
O corpo sai da terra dorido e os olhos semicerrados para não cegar. São abertos devagarinho, ao mesmo tempo que o corpo estica a vontade de chegar a casa. A luz invade-lhes de novo a vida que entendem como "normal".
Se o dia correr bem, depois das oito horas diárias em turnos onde os dias são sempre noites, abraçam as famílias, mas pouco falam de trabalho. Se o dia correr mal, choram, mas também não contam o que sofreram no interior da terra. "Somos muito unidos e o que acontece na mina, lá fica... Preferimos não preocupar as famílias", confidencia Jacinto Anacleto, mineiro em Neves Corvo e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM), que levanta a voz para defender a necessidade de uma maior preocupação governamental no que respeita às condições de trabalho.
Só desde o início do ano ocorreram nas três minas de extracção de minério em actividade em Portugal 134 acidentes: Panasqueira (50) Aljustrel (44) e Neves Corvo (40). Lamentam-se duas mortes. "Na maioria não são acidentes graves, mas em muitos casos os trabalhadores são obrigados a ficar de baixa médica e outros impossibilitados de trabalhar para sempre", salienta.
Aliás, quase todos os mineiros têm um susto para contar: aquele momento em que ouviram o deslizar das areias por cima das suas cabeças ou um outro em que não conseguiram acudir a um companheiro. Apesar dos meios de segurança serem cada vez mais exigentes e eficientes, o recente episódio na mina de San José, no Chile, que aprisionou 33 mineiros depois de um desabamento que lhes barrou o único contacto com o exterior, veio recolocar na ordem do dia a questão das condições de segurança nas minas.
"Estamos a falar de um trabalho específico e que acarreta muitos riscos. A terra não avisa quando cai. Esta não é uma profissão qualquer. Vivemos sob um perigo iminente", salienta José Maria Isidoro, do STIM e mineiro na Panasqueira.
Para além de maior inspecção e manutenção, o sindicato defende ainda uma formação mais activa e pensada. "O curso de mineiro demora pouco mais de três meses e após esse período os homens são enviados para baixo, muitas vezes, cheios de inseguranças e sem conhecerem bem a realidade de uma mina", diz, Jacinto Anacleto, que trabalha a setecentos metros de profundidade.
Em todo o caso e apesar dos problemas que as minas nacionais têm registado, o sindicalista afasta, desde logo, um cenário semelhante ao que está a suceder no Chile. "A Lei portuguesa não permite que uma mina tenha apenas uma entrada. Pelo menos, têm de existir duas. O socorro é logo mais facilitado", garante, mostrando-se sensibilizado para com os companheiros chilenos, que desde Agosto estão presos a setecentos metros de profundidade e que a partir desta semana poderão voltar a ver a luz do dia: "Sinto como se fosse connosco. Só queremos que sejam salvos!".
Fonte: Jornal de Notícias (10 de Outubro de 2010).
A este respeito, partilho ainda esta reportagem da SIC de 15 de Setembro de 2010, que recorda as memórias dos mineiros portugueses:
Monday, October 11, 2010
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment